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Nova 'estrada parque' de Cáceres mostra potencial turístico da região
Por Jussara Utsch/Revista Época
14/09/2014 - 07:40

Foto: Douglas Trent/Bichos do Pantanaç

Existe um paraíso escondido no interior do país com potencial para tornar-se uma segunda Transpantaneira - a rodovia MT-060. A nova rota é conhecida como Estrada Turística e fica próxima da fronteira entre o Brasil e a Bolívia, em Cáceres, no Mato Grosso. O desafio dessa região é similar ao de muitas área naturais do Brasil: implementar o turismo de natureza para gerar desenvolvimento sócio econômico e o empoderamento das comunidades locais. Seria possível trilhar esse sonho em uma região tão distante dos grandes centros urbanos?

O Brasil tem em seu território alguns dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do mundo. O Pantanal, com seus 250 mil quilômetros quadrados de extensão, é um desses exemplos. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o líder em um ranking de 140 países em belezas naturais.

Apesar do seu imenso potencial, falar de turismo de natureza (ainda) é um grande desafio. Basta lembrar que quase 90% dos turistas que visitam os Parques Nacionais vão apenas para dois destinos: Foz do Iguaçu, no Paraná, e o Parque da Tijuca, onde está o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. “Uma pesquisa do governo dos EUA revelou que em 2010 mais de 82 milhões de americanos viajaram para ver aves, porém nem 1% dessas pessoas vieram para o Brasil. Eles preferiram ir para Costa Rica, Peru, Austrália, ou para países da África”, afirma Douglas Trent, pesquisador-chefe do Projeto Bichos do Pantanal, e um dos pioneiros do turismo de natureza na Transpantaneira, no Mato Grosso.

A própria definição do que é o turismo de natureza gera confusões. Muitos acreditam que o termo seja sinônimo de ecoturismo, mas a atividade é bem mais ampla. Existe o ecoturismo, o turismo de aventura, o turismo educacional ao ar livre e uma profusão de outras experiências a céu aberto.

O segmento de turismo de natureza é um dos que mais cresce, principalmente nos países que investiram nesse caminho, como a Austrália e a Nova Zelândia. Segundo a Organização Mundial do Turismo a expansão do turismo de natureza está entre 15% e 25% ao ano e supera o de negócios e o de sol e praia. Porém, se analisarmos a divulgação internacional feita pelo Brasil fica nítido que nosso marketing ainda está centrado no turismo de praia.

Para aproveitarmos as potencialidades não exploradas de regiões como o Pantanal de Cáceres há muito o que fazer. O primeiro passo é compreender onde investir primeiro. Hoje, não há infraestrutura suficiente, poucos guias e operadores de turismo falam inglês, os guias especializados em reconhecimento de fauna também são poucos, quase não existem pousadas que atendam aos padrões internacionais e a divulgação em publicações fora do país, em muitos casos, praticamente inexiste.

Apesar do cenário aparentemente negativo, cidades como Bonito, no Mato Grosso do Sul, e Mamirauá, no Amazonas, são provas concretas das vantagens e do crescimento sustentável que o turismo de natureza pode proporcionar. Seja para as cidades onde essa atividade se estabelece, seja para a população local.

Foi para tentar seguir esses exemplos positivos que a população de Cáceres reuniu-se para criar a Rede de Cooperação Bichos do Pantanal. A inciativa foi proposta pelo Projeto Bichos do Pantanal, e hoje congrega representantes de universidades, empresários do setor privado, representantes dos órgãos públicos, associação de ribeirinhos, artesãos e integrantes do terceiro setor. A escolha do turismo de natureza como principal atividade de atuação foi detectada já na primeira reunião, em fevereiro de 2014.

O grupo também conta com o apoio da Escola de Negócios da Universidade do Kansas, que vai propor diagnósticos e estratégias. A necessidade de divulgação da região foi uma das primeiras questões detectada por Melissa Birch, diretora da Escola de Negócios da Universidade do Kansas e por Chirsty Imel, especialista em ecoturismo, em uma recente visita da equipe a Cáceres. “O município não estava em um dos poucos guias sobre o Pantanal disponível no site de vendas Amazon. Já no guia Pantanal Wildlife, uma das principais referências internacionais sobre a região no Brasil, os poucos atrativos que aparecem sobre a cidade são as atividades ligadas ao turismo de pesca”, afirma Imel. 

A questão da pesca esportiva é outro estigma para grande parte do Pantanal. A atividade foi fundamental para tornar essa região um importante destino turístico, atrair a construção dos primeiros hotéis e a consolidação de uma infraestrutura mínima. Porém, por questões ambientais, a pesca é proibida por quase quatro meses do ano, o que faz com que hotéis, barcos-hotéis, pousadas, guias turísticos e toda a cadeia da atividade perca visitantes, e renda, durante quase metade do ano.

Resumir as possibilidades desse importante ecossistema apenas para as atividades de pesca também é um imenso desperdício de potencial. No Pantanal de Cáceres, por exemplo, o turista pode fazer inúmeras atividades, como: o mergulho em profundidade na Dolina de Água Milagrosa, conhecer a estrada turística ainda quase inexplorada, fazer turismo rural nas fazendas, o turismo de contemplação em rios cercados por morrarias, visitar ninhais, visualizar animais únicos, como as onças-pintadas, e muitas outras atividades de ecoturismo, turismo de aventura, e claro, a pesca no rio Paraguai.

Para mudar o paradigma de o Pantanal ser apenas um local de pescaria, o primeiro desafio é a profissionalização. “Há muito a ser feito, desde repensarmos o design das pousadas até melhorar o treinamento efetivo de guias para observação da natureza, além de capacitá-los para falar fluentemente inglês”, diz Douglas Trent.

Um estímulo para esse salto de qualidade é o potencial de retorno do turismo de natureza. O Brasil recebeu, em 2013, 6 milhões de turistas estrangeiros e é o último no ranking dos emergentes. Entre os latino-americanos, o primeiro lugar ficou com o México, com 23,4 milhões de visitantes internacionais. Os números são apenas um alerta de o quanto o país perde e o quanto pode crescer em número de visitação. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMT), o turismo de natureza movimenta US$ 215 bilhões por ano. Uma pesquisa da consultoria francesa, TNS Sofres, concluiu que 69% dos turistas europeus estão dispostos a pagar até 30% a mais para contribuir com a preservação do local visitado.

De olho nesses números, um dos principais projetos da Rede de Cooperação Bichos do Pantanal é aproveitar o potencial do Pantanal de Cáceres para tornar a região um destino consolidado para o turismo de natureza. Uma das apostas do grupo é a Estrada Turística. O local tem potencial de visualização de animais superior ao da Transpantaneira (MT-060) e em apenas alguns minutos circulando pela estrada é possível ver lobinhos, tamanduás e cervos em meio a uma exuberante vegetação de cerrado alto. “Me lembra muito a Transpantaneira no início dos anos de 1980, há muito tempo não encontrava um local com tanta diversidade em espécies de aves”, diz Trent.

A riqueza de fauna e flora impressionam, porém a Estrada tem um outro diferencial importante: a chance de se desenvolver o turismo de natureza desde as primeiras ações. A ideia dos integrantes da Rede de Cooperação Bichos do Pantanal é justamente engajar os proprietários que possuem fazendas na região, o poder público, os empresários de turismo local e os centros de pesquisa para juntos criarem essas ações.

A aposta é que a região também consolide um novo modelo nacional para o turismo de natureza que possa ser compartilhado com vários outros paraísos escondidos do interior do Brasil.

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