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Estrutura precária do Curso de Medicina leva 35% dos estudantes a desistirem da Unemat
Por http://sosmedicinaunemat.blogspot.com.br/
01/09/2014 - 14:08

Foto: http://sosmedicinaunemat.blogspot.com.br/

A falta de estrutura do Curso de Medicina da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Cáceres, a 220 km de Cuiabá, reflete-se em estatística: 35% dos alunos abandonaram a faculdade nos últimos dois anos. Das quatro primeiras turmas, num universo de 120 alunos, 42 desistiram. Buscaram outra universidade com melhores condições de ensino ou voltaram para o cursinho.

Desde que o curso foi criado, são prometidos livros, professores, laboratórios e bloco próprio. Tais melhorias não foram efetivas. A gestão da Unemat afirma, como principal argumento, que o curso é novo, e as soluções são planejadas e implantadas ao longo dos semestres.

Porém, passados dois anos da aula inaugural da Medicina na instituição, observa-se, com surpresa, que a evasão maior não foi na primeira turma, mas na última. Dos acadêmicos que ingressaram no primeiro semestre de 2014, metade abandonou as aulas. Este fato reflete que, apesar do discurso da gestão da Unemat, desde 2012 a situação não progrediu.

Na verdade, os números mostram que o quadro piorou. Em 2013, a evasão era de 20% - valor já considerado alto à época. Em agosto de 2014, dados revelam que, do quinto semestre, 12 estudantes foram embora. Do quarto período, oito abandonaram o curso, seguidos de sete do terceiro semestre e 15 da turma que ingressou no começo do ano. Dos calouros, não se sabe ainda sobre evasão, porque, em assembleia geral, os estudantes de todas as turmas, angustiados, decretaram greve em 13 de agosto.

Nos últimos dias, a greve dos estudantes ganhou força e teve impacto na imprensa de todo o país. Surpreende porque Medicina costuma estar entre os cursos mais disputados nos vestibulares, ainda mais em instituições públicas. Por ano, são milhares de candidatos que disputam uma vaga pelo sonho de ingressar em uma das carreiras mais valorizadas do país. Por esta razão, é notório observar a paralisação dos estudantes e o fato de que mais de um terço dos acadêmicos de Medicina da Unemat renunciaram ao curso gratuito.

A estudante Raissa Amorim é um exemplo de como a falta de infraestrutura pode fazer um aluno repensar sua escolha. “Decidir sair do curso dos seus sonhos é uma escolha difícil. Ainda mais quando já se cursou um período e pôde sentir um pouco da vivência na área médica. No entanto, optar por uma faculdade que ofereça maiores oportunidades acadêmicas, como, projetos científicos, ligas acadêmicas já estruturadas, intercâmbios e Hospital Universitário para o internato me pareceu ser mais confiável e estável para minha formação profissional. Decidi desistir do curso de Medicina da Unemat, principalmente, pela estrutura. Chegar em uma faculdade e não saber qual é seu bloco (inexistente), ou procurar pelos laboratórios e não encontrar da forma como deveria ser, com a separação adequada entre o de histologia e o de anatomia, assim como ir estudar peças humanas e não encontrá-las em número suficiente ou em estado de conservação ideal é degradante e lastimável”, diz a jovem.

Raissa ainda questiona a forma como o curso foi criado. “Faltou planejamento inicial e, hoje, paga-se por isso. Também contribuiu para minha saída o descaso da reitoria com as reclamações feitas pelos alunos desde a abertura do curso. Assim como a falta de infraestrutura da cidade em relação ao transporte público, asfalto nas ruas, entre outros. Acredito que o curso esteja passando pelas consequências de sua abertura interiorana sem o preparo de docentes capacitados e do plano de ensino. Após muitas leituras e uma vivência sem igual digo que o curso de Medicina da Unemat é um elefante branco - apesar do seu grande potencial, é mal administrado”, afirma a aluna, que hoje estuda Medicina na Universidade Federal do Maranhão.

A estudante cita um trecho de artigo da Academia Médica para questionar a abertura de cursos de Medicina no país sem infraestrutura adequada. “Por que ao invés de abrirem novas faculdades não seria melhor fortalecer e estruturar as já então existentes? Porque flexibilizar a qualidade em função do interesse mercadológico puro? Por que vender de forma tão leviana um sonho tão nobre, aos nossos jovens? Por que não tentar resolver o problema da interiorização de forma digna com uma carreira estruturada para o profissional médico?”, finaliza.

DEFICIÊNCIAS NA ESTRUTURA AFASTAM OS ALUNOS

Os acadêmicos de Medicina da Unemat que lutam para permanecer na instituição entraram em greve por tempo indeterminado em 13 de agosto de 2014. A decisão em Assembleia Geral estudantil reflete a busca por mais qualidade de ensino.

Desde 2012, quando o Curso foi inaugurado, os acadêmicos sofrem com a falta de um bloco próprio da Medicina e com a ausência do prédio de laboratórios. Não há biotério. Hoje, duas salas de aula foram improvisadas para atividades práticas.

Não há peças anatômicas humanas, importantes para a formação médica. Não há também equipe técnica suficiente para que o laboratório funcione em todos os turnos e com a orientação necessária para o uso dos equipamentos.

Como o curso adota o modelo PBL (ABP, Aprendizagem Baseada em Problemas), é preciso que todos os professores tenham qualificação para esta metodologia e educação continuada. Existem turmas com disciplinas pendentes, e há uma preocupação dos acadêmicos não só com o cumprimento das aulas necessárias, mas quanto à reposição do conteúdo não ministrado. Alguns professores, por exemplo, também não disponibilizam o plano de ensino, que é obrigatório e reivindicado pelos alunos.

A estruturação do Curso de Medicina é questionada pelos estudantes porque não é disponibilizado pela universidade um projeto pedagógico completo, indispensável às atividades acadêmicas, e o atual reflete incoerências no texto. Além disso, os alunos pedem a criação de uma Faculdade de Ciências Médicas, entre outros, para que o sistema acadêmico seja adequado às propostas do PBL.

A insuficiência de livros na biblioteca gera angústia nos estudantes. A produção acadêmica também fica prejudicada porque a Cidade Universitária, que abriga o Curso de Medicina, não possui rede wi-fi.

Não existe um hospital-ensino, e os convênios com instituições de saúde e prefeitura não funcionam regularmente. Há restrição aos alunos à oferta de vacinas, o que os expõe a riscos. Também, os acadêmicos, por não possuírem identificação estudantil para atividades práticas, sofrem dificuldades e até bloqueio à entrada nas instituições conveniadas. Em manifesto, os estudantes ainda pedem que, em até 90 dias, seja construído o bloco do Curso de Medicina e o Restaurante Universitário, além de transporte entre campi, que auxiliaria acadêmicos de outros cursos.

Nas últimas semanas, foram feitos protestos e reuniões com o governador do Estado, Silval Barbosa, com Secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, com reitor da Unemat, Dionei Silva, e com o secretário de Saúde de Cáceres, Wilson Kishi. Sem soluções definitivas para os problemas questionados, os acadêmicos permanecem paralisados.

 

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