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De rondonopolitanos
Por por Eduardo Gomes de Andrade
07/12/2016 - 16:27

Foto: arquivo

Linda, sedutora, envolvente, irresistível. Assim é Rondonópolis quando vista pela beleza de suas mulheres, sua arquitetura, seu tráfego intenso e ordenado, a movimentação financeira de seu comércio, sua capacidade de prestação de serviços, a poesia de seu rio que para os bororos continua Poguba enquanto teimamos em chamá-lo de Vermelho. Porém, quando se olha para a alma daquela cidade, o que se vê é dor, luto e tristeza.

Rondonópolis carrega na alma uma cicatriz que começou a ser aberta em dezembro de 1972 e a cada dia aumenta mais e mais. Em seus lares, das mansões, condomínios de alto luxo e apartamentos aos casebres da submoradia, todos, indistintamente carregam no peito a dor da perda de alguém para a BR-364, rodovia que faz sua ligação com Cuiabá.

Quem não perdeu um parente, perdeu um amigo, um vizinho, um conhecido ou alguma figura pública rondonopolitana com a qual se identificava. A 364, o grande corredor rodoviário de escoamento de commodities agrícolas brasileiras é também um cenário de mortes e de ferimentos graves causados por acidentes, principalmente pelas colisões frontais.

Deus foi generoso comigo também pela memória que meu deu, mas nem assim seria capaz de relacionar os amigos e conhecidos que perdi nos 200 quilômetros da 364 entre Rondonópolis e Cuiabá. Muitas e em épocas diferentes foram às vezes em que fui ao cemitério levar o corpo de alguma vítima. Incontáveis vezes ouvi choro e participei de orações em enterros da nossa gente que tombou sobre suas pistas ou nas laterais das mesmas. Corredor da morte! É assim que muitos costumam chamá-la.

Conheci a 364 ainda sem pavimentação, com suas costelas de vaca no cascalho de seu leito. Juscimeira e São Pedro da Cipa, agora cidades, eram vilarejos. A Pensão Seca, no Km 300 era referência e parada obrigatória na metade do trajeto entre as duas cidades. Diz a história oral que Filinto Müller certa feita pernoitou naquele estabelecimento, quando fazia uma viagem a Poxoréu em campanha eleitoral. Ao levantar, o líder político não encontrou água para lavar o rosto. Chateado lhe deu o pejorativo nome, que mais tarde ganharia contornos de charme.

Vi a entrega de sua pavimentação ao tráfego em 22 de dezembro de 1974, no Coxipó da Ponte, em Cuiabá. Ao lado do governador anfitrião, José Fragelli, o presidente Garrastazu Médici cortou a fita inaugural.

Quando da inauguração da pavimentação a 364 era uma estrada para as modestas carretas – ou jamantas, como eram chamadas – que transportavam até 30 toneladas. Depois vieram os bitrens e outros pesadões e a rodovia não os suporta mais.

Diariamente 16,5 veículos a cruzam nos dois sentidos. Dessa frota, 85% são pesados. O processo de duplicação da rodovia, em curso há anos, foi concluído em 50 quilômetros. Neste mês o ministro dos Transportes, Maurício Quintela, vem a Mato Grosso para entregar mais 20 quilômetros duplicados. Enquanto isso a concessionária Rota do Oeste mantém três postos de cobrança de pedágio sangrando os usuários. Vejo com tristeza o distanciamento da classe política dessa rodovia, à exceção do senador Wellington Fagundes, que se dedica a ela de corpo e alma. No Senado Wellington é senador por Mato Grosso, o estado da Rondonópolis que é dele, minha e todos nós rondonopolitanos que sonhamos com a duplicação da nossa rodovia. Ainda bem que o temos em Brasília.

 

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com

 

 

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