Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
A Ku Klux Klan do século XXI e o Dia da Consciência Negra
Por por Alianna Caroline Sousa Cardoso Vançan
19/11/2015 - 12:12

Foto: arquivo

- Não há preconceito de raça ou cor,

 diz o lojista branco antes de sair em seu PEUGEOT 307 recém comprado. Dono de uma loja em que 80% dos seus funcionários são negros.

-Não existe trabalho escravo,

diz o pecuarista logo após chegar de sua viagem ao exterior e manter em sua fazenda, sob baixos salários e obrigação de comprar dentro dos limites de sua propriedade, inúmeros negros.

Thais Araújo foi chamada de macaca nas redes sociais, o goleiro Aranha também, só que ao vivo.

Daniel Alves ao receber uma banana no campo enquanto trabalhava (sim, o futebol pra ele é emprego) a comeu num tom de ironia e deboche ao preconceito.

São tantas Thaises, Aranhas, Daniéis, anônimos que têm a porta fechada para a liberdade em pleno século XXI.

É inadmissível que sejamos ainda os algozes da mesma gente que nos foi herói quando salvou nossa terra, nossos irmãos e irmãs das mãos carrascas da casa branca. Não fossem eles estaríamos até hoje separados na rua pelo tom de cor num aparthaid de eugenia e higienização.

Somos a Ku Klux Klan do século XXI, matando a auto-estima e a vida de gente que nem a gente, só pelo tom da pele e por um minuto se sentindo estupidamente superior.

A cada vez que negamos a verdade fazemos jus ao tabu. O preconceito existe e dele advém uma série de comportamentos escravocratas. Ainda temos uma sociedade estereotipada e detentora de discursos que envolvem a propagação do elitismo branco.

Não precisamos ser negros para lutar pela liberdade de cor. De se ser o que se é e de reconhecer-se enquanto indivíduo existente e portador de direitos humanos, direitos estes que são baseados no princípio primordial da dignidade da pessoa humana.

Só se possui dignidade quando o seu tipo físico ou sua ideologia religiosa não servem para estabelecer seu valor. Só há respeito se sua cor não é limitador para a entrevista de emprego ou para a forma como se é tratado dentro da sociedade.

Você pode não saber, mas também é preconceito não admitir o candomblé enquanto religião e achar que macumba é coisa de preto e que só se faz maldade em lugar que tem pai de santo.

A religião do candomblé é original da região das atuais Nigéria e Benin, foi trazida para o Brasil por africanos escravizados e aqui estabelecida. É parte da cultura negra e merece como tal ser respeitada como ente da cultura brasileira.

Cada um de nós é miscigenado pelo sangue dos negros que aqui foram trazidos por um eurocentrismo ganancioso que manipulou e cerceou a liberdade física e de pensamento de toda uma cadeia de gerações de gente que mesmo depois de liberta não sabia como se libertar.

É tempo de darmos fim ao preconceito sim! Mas mais que isso! É tempo de enterrarmos a hipocrisia. Não se aquilata alguém pela cor de sua pele, tampouco se ama alguém pelo mesmo motivo. Somos unidade. Aceitar o problema e batalhar a frente da temática não sendo um propagador é uma medida simples e que pode ser adotada agora. O sistema é racista e propaga limites de cor no âmbito social, empregatício, jurídico.

Há muito a ser efetivado e precisamos compreender que o preconceito de cor, raça e credo pode estar envolvido. O trabalho escravo permanece na realidade cotidiana de muitos homens e mulheres. Yemanjá foi quebrada em praça pública na Baia Brasileira, as redes sociais xingam todos os dias gente que ama seu cabelo afro e que se entende como identidade negra.

Muita gente já morreu em sangue vermelho como o seu para que fosse possível que o mundo reconhecesse o negro como ser digno de direitos, nos EUA até o ônibus era separado e hoje temos um presidente negro.

Já galgamos um imenso espaço no mundo, foram Luther kings, Malcom Xs, Ray Charles, Zumbis,  Ninas Simones, Angelas Davis e também Marias, Josés, Joãos, lutando pela igualdade.

O numero de mulheres negras mortas cresceu mais de 50% nos últimos dez anos e precisamos entender que essa conta tem de parar de crescer AGORA! Mas a responsabilidade não é só do negro em lutar pelo seu espaço, somos todos responsáveis agora a reequilibrar esse sistema. A contar aos nossos filhos uma nova história sobre os negros, a retirar o estigma da empregada negra de vestido branco, a compreender que na luta social o negro merece tratamento igual.

O dia da consciência negra foi articulada, através da Lei 12.519/2011, que marca a data da morte de Zumbi dos Palmares, como dia pra pensar no assunto.

O convite então é pra pensar também mas especialmente pra agir. Parar de fingir que o tema não existe e aceitar que sua cor seja ela qual for não diz quem você é.

Pensemos e ajamos. Nos conectemos em prol desse bem! De sermos todos iguais para além das leis.

P.S - > quem escreve esse texto é branco e nem por isto menos competente pra falar de negros porque somos humanos, e isso já me torna capaz de entender sobre sermos iguais.

 

*Assessora Técnica da Secretaria Adjunta de Justiça – SAJU da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos/ SEJUDH, advogada, mestranda em filosofia social pela UFMT, professora universitária, voluntária no grupo CONECTADOS

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